Henrique Cabral: learn to fly

08 August 2008

Reciclar ajuda

Durante muito tempo acreditei na eficácia das campanhas de separação de embalagens. Primeiro, porque as cores escolhidas são giras, o verde para embalagens de vidro, frascos e boiões (esta é a parte das compotas!), o azul para o papel ou o cartão e o amarelinho para os alumínios e outras embalagens de metal.

Ao contrário do que é normal, não se enveredou por soluções complicadas como o vermelho para as garrafas de vidro de vinho tinto, o amarelo para as garrafas de vidro de vinho branco ou o verde para o resíduo de um fantástico Aveleda. Outra hipótese de complicar seria utilizar o branco para embalagens de vinho branco, independentemente de se tratar de vidro ou tetra-pack. Depois há os ecopontos. Normalmente num cinza escuro, bonitos, afirmam-se pela imponência com que se instalam na berma dos passeios das nossas cidades. A sua importância sai reforçada pelo fabuloso sistema de recolha de embalagens através de sonoros camiões que, de guindaste ao alto, os erguem e sacodem como quem despeja as últimas gotas de um frasco de ketchup. Estes factores são pedaços da história bonita que é a educação dos portugueses para a separação de resíduos.

Por isso, sempre acreditei. Quando se explicou aos portugueses que os símios em perigo de extinção eram capazes de separar resíduos, tive a certeza que, a partir desse momento, também todos nós passaríamos a ser capazes. E quase fomos. Até há bem pouco tempo. Eu explico. Lembram-se que toda a campanha da sociedade ponto verde era ilustrada por crianças, vestidas de amarelo, azul ou verde? Que, com a bondade e a ternura que lhes são próprias, apesar do ar relativamente parvinho de alguns destes anjinhos, nos explicavam o que colocar e aonde. Pois bem, a nova edição desta campanha utiliza agora crianças…mais grandinhas. Mulheres adultas, actrizes ou apresentadoras conhecidas. Ou seja, separar resíduos deixou de ser uma brincadeira de crianças para passar a ser uma brincadeira de adultos que nunca, na sua infância, tiveram oportunidade de jogar com aqueles cubos abertos da Chicco, com buracos vários tipo queijo suíço, de formas diversas por onde deveríamos fazer passar prismas, cones, cilindros, esferas e muitos outros formatos que, não sendo adequados para o buraco em causa, passavam à marretada. Um pouco como agora, nos ecopontos.


São portanto ilustres caras conhecidas que agora nos educam. A mensagem evoluiu pois de «até tu és capaz» (do tempo do macaco) e «os meus filhos separam as embalagens e os teus, sua lontra?» (do tempo das criancinhas) para «nós, as Lux e Caras deste país somos dotadas de consciência ecológica e ainda contribuímos para a prevenção do cancro da mama e por isso é que devem separar as embalagens, não sei se tá a ver?». Explica-nos a Amarsul (parceira da sociedade ponto verde na campanha) que “Agora, ao reciclar não está só a ajudar o ambiente”: a associação da AMARSUL à campanha “2 causas por 1 causa” tem por objectivos reforçar a sensibilização das populações para a importância da deposição dos materiais de embalagem recicláveis nos ecopontos e simultaneamente apoiar o combate a uma doença que, de acordo com a Laço, pode afectar 1 em cada 12 mulheres. Assim, o cancro da mama é o cancro com maior taxa de incidência em Portugal, com cerca de 4.400 casos novos por ano. 90% dos cancros da mama são curáveis, se forem detectados a tempo e tratados correctamente, pelo que o rastreio desempenha um papel fundamental. A AMARSUL apela a todas as pessoas que contribuam para o sucesso desta campanha separando em casa todo o tipo de resíduos de embalagem - metal, plástico, papel/ cartão e vidro - e depositando-os correctamente nos respectivos ecopontos.

Simplificou-se, pois, a mensagem, tornando-a muito mais perceptível (e aos respectivos objectivos), aos olhos dos portugueses. Barrigudos, que bebem muita cerveja e com mamas.