Henrique Cabral: learn to fly

31 January 2009

Aero Sol, para quando?

Uma amiga minha contou-me, há dias, que, até comprar uns sapatos Aerosoles, nunca tinha ouvido falar desta empresa. Quando adquiriu os sapatos, recebeu um catálogo com os modelos, onde se podiam encontrar igualmente os endereços das lojas do grupo por todo o mundo. É de facto impressionante a quantidade de lojas e o número de mercados onde esta empresa comercializa os seus produtos.

Bom, a questão é que esta empresa foi, também ela, afectada pela crise, encontrando-se numa situação de pré-falência. Como é evidente, se questionado a propósito, o Ministro Pinho, muito provavelmente, como medida para ajudar a resolver os problemas da empresa, sugeriria a diversificação de mercados. Ou seja, talvez abrir mais umas lojas...na Lua. Mas isto são fait-divers de importância diminuta ao pé da dimensão dos problemas com que a minha amiga está. É que, os confortáveis shoes Aerosoles lhe apertam imenso no peito do pé! Ora isto sim, é dramático.

Ou seja, estamos perante um problema da economia real: uma consumidora que não repetirá a compra, uma vez que não ficou satisfeita com o produto. Bom, o Ministro Pinho aconselhou os portugueses a comprar português. Há uns anos, o "buy Irish" fez doutrina (pela negativa) na CE. Mas a estratégia está longe de ser nova. De resto, os nossos vizinhos espanhois resolveram fazer o mesmo: aconselhar os consumidores espanhois a comprar produtos espanhois.

E o que fizemos nós? Protestámos, dado tratar-se a Espanha de um mercado preferencial para os produtos portugueses e de ser um mercado de destino, objecto de sugestão, por parte do Ministro da Economia, para expansão da actividade empresarial portuguesa? Não, imitámos. Mas em jeito de retaliação? Não, em jeito simpático de quem concorda com a estratégia seguida em Espanha para sair da crise: fechar mercados, retomar políticas proteccionistas. Assim poderemos dizer que combatemos a crise com medidas idênticas às que outros países estão a tomar.

Esqueceu-se o Ministro Pinho que, um consumidor, na sua decisão de compra, não incorpora, num momento de crise, muitas variáveis. Básicamente, ficar-se-á pelo se tiver mais qualidade ou se o preço fôr inferior. Bom, "os Aerolosoles apertam-me", disse-me a minha amiga, "mas são portugueses", retorqui eu, "que se lixe", disse-me ela, "vou até devolvê-los e pedir que mos arranjem". "Mas eles não têm dinheiro", respondi eu, "o Estado até teve que lhes injectar umas massas valentes", expliquei, "ai isso é que equilibra a economia?" perguntou-me ela, "e as outras empresas do mesmo sactor?", "essas, tadinhas, tadinhas, perdem a pouco competitividadezinha que já tinham", respondi eu, "então vou pedir ao Estado que me arranje os sapatos", disse ela, fim de Saramago.

Fiquei a pensar que num futuro próximo, muito provavelmente, também os sapateiros deverão ser nacionalizados.