Henrique Cabral: learn to fly

30 November 2008

Bancos de papel

O primeiro-ministro José Sócrates descansou-nos dizendo que os bancos portugueses irão pagar pela utilização das garantias: "(...) há regras para aceder às garantias e que elas têm de ser pagas aos contribuintes".

Isso torna tudo bem mais simpático e ficamos obviamente mais descansados com este esclarecimento.

Como é evidente, aquilo que Sócrates nos quer transmitir é que estará sempre disponivel para injectar mais umas maçarocas quando e se os bancos começarem a dever aos contribuintes portugueses não os créditos actuais mas sim .... os juros dos empréstimos conseguidos ao abrigo do plano de recapitalização da banca!

Como é evidente, neste dia de frio em que decidiu nevar um pouco desde o Interior Norte até ao Alto Alentejo, a bola de neve já rebola crescidinha: os bancos financiaram-se no exterior e perderam parte significativa dos seus investimentos; como dependem uns dos outros porque se emprestam mutuamente, incapazes de honrar os seus próprios compromissos cumprindo os pagamentos relativos aos seus próprios créditos, vêem-se na necessidade de ser ajudados pelo governo por forma a que a crise financeira se não estenda à própria economia (que em Portugal apresenta níveis de crescimento invejáveis e, portanto, de crescimento de emprego aceleradíssimo, vá-se lá a correr protegê-la não vão as fábricas de têxteis fechar, as de cerâmica fechar, as metalúrgicas fechar, as de componentes automóveis fechar, as de calçado não exportar e ... há mais algumas, tirando a Critical que está aflitinha, coitadinha?), via plano de recapitalização. Como estas massas são evidentemente para aplicar e aplicações sem risco não se vislumbram no horizonte, o magnífico Estado fez o favor de transferir o respectivo risco para ... os contribuintes!

Ainda assim, José Sócrates, afiança, com certezas de economista caseiro, que os contribuintes serão beneficiados com tais rendimentos, pois receberão os juros das aplicações de risco das verbas do plano de recapitalização.

Isto se entretanto não for necessário fazer aprovar um plano para salvar a banca do próprio plano de recapitalização...

Pela minha parte, agradeço, pois as minhas acções estão pela hora da morte e o respectivo gráfico de evolução continua a marcar queda acentuada. Acresce que a minha gestão é feita por um banco português, que muito provavelmente também necessitará de recorrer ao plano do Estado. Mas como já sei que me pagará juros pelas magníficas operações que com este capital agora fará, acredito que as aplicações que terá em mente serão certamente de maior rendibilidade do que as que tem feito com o meu (outro) dinheiro.

Sim, porque não há dinheiro meu e meu dinheiro: todo ele é meu.

Obrigado, Estado, obrigado José Sócrates, por me dares garantias de poder vir a ficar com o que é meu.

(ps: Só mais uma coisinha: haverá para aí algum economista mais abalizado do que eu que me consiga explicar como é que um banco (o Banco Privado Português) que se dedica em exclusivo ao private banking e que, portanto, para além de de activos mobiliários, supostamente minimizará os riscos das respectivas carteiras, com aplicações em activos imobiliários, arte, ouro, etc., de repente se vê tão confrontado com a crise financeira e indefeso ao ponto de necessitar de ajuda de um Estado como o português, que não tem onde cair morto? E isto porque, afinal, mais de 50% dos seus créditos têm origem na banca .... de retalho nacional?!!! Agradeço ajuda (não financeira, por favor não gastem mais dinheiro) para melhor entender o fenómeno.)

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