Henrique Cabral: learn to fly

30 November 2008

Cavaco e o BPN

Afinal, de acordo com o jornal Expresso deste fim de semana e a fazer fé no insuspeito Nicolau Santos, Cavaco nunca teve nenhum envolvimento directo com o BPN, excepto ter sido accionista da Sociedade Lusa de Negócios até 2003, bem como a Pati.

Haaa, assim está tudo bem! Está pois explicada a questão do seu "envolvimento DIRECTO" no BPN.
Estavam lá os cavaquistas todos, havia de lá estar também o Cavaco! Inventam cada coisa!
Isto desde o Magalhães que não há descanso. Ó Meneses, vê lá se acalmas um bocadinho que o país está a ficar ingovernável. Qualquer dia, já só nos resta suspender um bocadinho a democracia, para ver se conseguimos voltar a pôr ordem nisto. Mas é só um bocadinho.
Enquanto a pizza está no forno, depois já é outra vez.
Democracia.

Crise, qual crise?

Francamente, não há estagnação, perdão Agência Lusa, não queria dizer estagna, opss, queria dizer crise, isso: o que acontece é que há um super relançamento da economia....o que nos pode conduzir à estagna, perdão, propulsão.




Magalhães e os coletes de trânsito

Há em Portugal, periodicamente, fenómenos deveras intrigantes, pela adesão que suscitam, verdadeiramente em massa, por parte dos portugueses.

Há poucos anos atrás, foram os coletes de trânsito. Enquanto em Espanha ou no Reino Unido foram necessárias campanhas complicadíssimas, se acenderam discussões filosóficas sobre o tema e a questão não está ainda resolvida, em Portugal apenas foi necessário acenar com ameaças de vigilância apertada por parte da Brigada de Trânsito da GNR e com multas a quem ousasse parar à beira da estrada, para fumar um simples cigarro, sem vestir de imediato o respectivo coletinho verde e pronto, está feito, toca a correr encomendar a novidade.

Foi de tal forma que gasolineiras, hipermercados, lojas de conveniência, todos participaram no grande desígnio nacional que foi dotar cada português do seu colete de trânsito.

Assim foi até esgotarem.

Pois bem, o actual desígnio é o Magalhães. "I have a dream", he said ... Sonho com o dia em que todos os portugueses possam navegar pelo Mundo, assim como Magalhães fez há mais de 500 anos, quando partiu para a sua volta de circum-navegação, em busca das Índias pelo lado oposto ao habitual, que é como quem diz, ao contrário. Não sei se estão exactamente a par mas Magalhães nunca haveria de descobrir as Índias, acabando mesmo por atirar as cartas de navegação que então dispunha borda fora porque depois do estreito que haveria de vir a chamar-se Magalhães em sua homenagem, todo o grande mar que era o Pacífico estava mal descrito.
Como Magalhães, também os portugueses deverão um dia poder navegar livremente, cada um agarrado ao seu portátil, sem saberem exactamente qual o seu destino (de resto, como hoje fazem, navegam sem rumo e assim é que é bom).

Tal como com os coletes, também agora a histeria colectiva tomou conta dos portugueses, que acorreram em massa ao seu Magalhães.

Tal como aconteceu com os coletes, também os Magalhães esgotaram.

A história repete-se.

José Sócrates está pois, bem aconselhado. Os seus sábios conselheiros sabiam que, lançada uma novidade do tipo colete, os portugueses tratariam de se mobilizar, num sinal do magno respeito pelo grande líder. E portanto Sócrates poderia apostar num desígnio do tipo computador a seu dono porque isso lhe permitirá, cada vez mais, recolher impostos via internet. Terá sido ainda Macedo quem lhe segredou ao ouvido a estratégia: "Depois de um PC na mão de cada português, não haverá um único que possa dizer que não pagou os impostos porque não tinha internet em casa...".

Depois do Congresso do PC(P) deste fim de semana, no Campo Pequeno, e de tantas mãos no ar, suponho que o aviso de Macedo não queria exactamente dizer que dentro em breve teríamos um PC na mão de cada português mas um português com uma mão no PC (ou um pé....). De colete vestido, pois claro!
Toca a mobilizar!



Bancos de papel

O primeiro-ministro José Sócrates descansou-nos dizendo que os bancos portugueses irão pagar pela utilização das garantias: "(...) há regras para aceder às garantias e que elas têm de ser pagas aos contribuintes".

Isso torna tudo bem mais simpático e ficamos obviamente mais descansados com este esclarecimento.

Como é evidente, aquilo que Sócrates nos quer transmitir é que estará sempre disponivel para injectar mais umas maçarocas quando e se os bancos começarem a dever aos contribuintes portugueses não os créditos actuais mas sim .... os juros dos empréstimos conseguidos ao abrigo do plano de recapitalização da banca!

Como é evidente, neste dia de frio em que decidiu nevar um pouco desde o Interior Norte até ao Alto Alentejo, a bola de neve já rebola crescidinha: os bancos financiaram-se no exterior e perderam parte significativa dos seus investimentos; como dependem uns dos outros porque se emprestam mutuamente, incapazes de honrar os seus próprios compromissos cumprindo os pagamentos relativos aos seus próprios créditos, vêem-se na necessidade de ser ajudados pelo governo por forma a que a crise financeira se não estenda à própria economia (que em Portugal apresenta níveis de crescimento invejáveis e, portanto, de crescimento de emprego aceleradíssimo, vá-se lá a correr protegê-la não vão as fábricas de têxteis fechar, as de cerâmica fechar, as metalúrgicas fechar, as de componentes automóveis fechar, as de calçado não exportar e ... há mais algumas, tirando a Critical que está aflitinha, coitadinha?), via plano de recapitalização. Como estas massas são evidentemente para aplicar e aplicações sem risco não se vislumbram no horizonte, o magnífico Estado fez o favor de transferir o respectivo risco para ... os contribuintes!

Ainda assim, José Sócrates, afiança, com certezas de economista caseiro, que os contribuintes serão beneficiados com tais rendimentos, pois receberão os juros das aplicações de risco das verbas do plano de recapitalização.

Isto se entretanto não for necessário fazer aprovar um plano para salvar a banca do próprio plano de recapitalização...

Pela minha parte, agradeço, pois as minhas acções estão pela hora da morte e o respectivo gráfico de evolução continua a marcar queda acentuada. Acresce que a minha gestão é feita por um banco português, que muito provavelmente também necessitará de recorrer ao plano do Estado. Mas como já sei que me pagará juros pelas magníficas operações que com este capital agora fará, acredito que as aplicações que terá em mente serão certamente de maior rendibilidade do que as que tem feito com o meu (outro) dinheiro.

Sim, porque não há dinheiro meu e meu dinheiro: todo ele é meu.

Obrigado, Estado, obrigado José Sócrates, por me dares garantias de poder vir a ficar com o que é meu.

(ps: Só mais uma coisinha: haverá para aí algum economista mais abalizado do que eu que me consiga explicar como é que um banco (o Banco Privado Português) que se dedica em exclusivo ao private banking e que, portanto, para além de de activos mobiliários, supostamente minimizará os riscos das respectivas carteiras, com aplicações em activos imobiliários, arte, ouro, etc., de repente se vê tão confrontado com a crise financeira e indefeso ao ponto de necessitar de ajuda de um Estado como o português, que não tem onde cair morto? E isto porque, afinal, mais de 50% dos seus créditos têm origem na banca .... de retalho nacional?!!! Agradeço ajuda (não financeira, por favor não gastem mais dinheiro) para melhor entender o fenómeno.)