Henrique Cabral: learn to fly

02 March 2008

Habilitações para se ser primeiro-ministro

Ao passar os olhos pelo Diário de Notícias de domingo, 2 de Março de 2008, deparei-me, a dada altura, com o seguinte título: «Sócrates furioso com atrasos no QREN». A reflexão que aqui quero deixar prende-se mais com o título do que com a substância da notícia. Não cuido pois de saber se o facto de o QREN estar em vigor desde 2007 e ainda não existirem projectos contratualizados é bom ou mau para o país, se os 7 mil milhões de euros, correspondentes à dotação de 2007, se perderão, se existe ou não atraso que conduza à perda de recursos para o investimento. Muito menos cuidarei de saber se afinal, como refere o ministro Nunes Correia, foi a mensagem de que estava em causa a competitividade e a valorização do potencial humano que não passou para os municípios (suponho que quererá dizer, presidentes de câmara, vereadores e afins, dado municípios ser – acho eu – um pouco vago…) ou se eventualmente esta mensagem não terá passado por, digamos, alguma falta de coerência entre a dita e o que vemos, na prática. Ou se uma mensagem destas, que refere competitividade e valorização de potencial humano poderá algum dia ter eco em Portugal. Não, não cuidarei saber nada disto, não porque não me interesse mas sim porque, já aprendi que, em Portugal, quando se trata de servir a coisa pública, o nosso comportamento terá normalmente que ser o seguinte: primeiro, preocuparmo-nos, a seguir, envolvermo-nos (não gosto da palavra «empenharmo-nos», que acho desajustada às situações em que habitualmente é utilizada), depois desmotivarmo-nos (passo as questões que nos conduzem à mesma que são do conhecimento de todo o português honesto, com coluna vertebral adquirida ao longo da respectiva educação), depois deixarmos de querer saber (até por uma questão de defesa pessoal) e, finalmente, mandarmos Portugal às urtigas (se, para isso tivermos coragem e alguém que nos acompanhe na aventura). Por isso, confesso, não quero saber.

Aquilo que me interessa, é a mensagem. Ou as mensagens. Passo a explicar.
«Sócrates furioso com atrasos no QREN» e «primeiro-ministro chama a si dossier sobre o quadro estratégico», o que querem exactamente dizer?

(Sr. Primeiro-ministro, agradeça-me, pois graças a mim pelo menos uma das múltiplas mensagens que quer fazer passar, passará, chegará a milhares de portugueses. Vá, centenas. Dezenas, talvez. Ok, três ou quatro, que são os que lêem este blogue.) (Na realidade, não necessita de me agradecer, o esforço para o entender acaba por não ser muito. Vá, nenhum.)

Bom, aquilo que o Sr. PM quer que percebamos é: «O sôr Sócrates só tem chatices, agora são os ministros que não fazem nada, não têm preocupações com o dinheiro que se poderá vir a perder, no fundo, delapidam os recursos públicos, ele teve inclusivamente que pegar (reparem na bondade do termo) no dossier e responsabilizar-se, pessoalmente por ele, tadinho.» Bom, ok, o tadinho poderá estar a mais, admito.

É claro que, percebendo eu tão bem o Sr. Primeiro-ministro, comecei de imediato a pensar que me poderei candidatar a PM, eu também. Daí até tentar perceber quais as habilitações adequadas para o cargo, foi um passo. E foi então que concluí que necessito de alguns cursos para além da formação que possuo. Não me bastarão doutoramentos, mestrados ou bastante experiência profissional. Aliás, essa não será a formação adequada, de todo. Necessitarei, isso sim, de cursos de transmissão de mensagens por sinais de fumo, transmissão de mensagens por código Morse, transmissão de mensagens por sms, entre outros, para ver se as mensagens passam. Porque à lei da bala não poderá ser por ser relativamente pouco democrático.

A dúvida que tenho agora é a seguinte: será que no QREN encontrarei as fontes de financiamento necessárias para a qualificação do meu evidente «potencial humano»?

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