Henrique Cabral: learn to fly

23 February 2008




Mais vale pão duro do que figo maduro

Este tema sugere preocupações a dois níveis: a questão dos provérbios e a questão da OTA.

Ambas se resumem em poucas palavras: a questão dos provérbios motivada por se tratar de mais uma indústria falida, em Portugal, que José Sócrates ainda não conseguiu recuperar e a questão da OTA por esta ter sido, por momentos (prolongados, é certo), considerada a melhor alternativa a Lisboa + 1, sendo que este «+ 1» é, no fundo, o Aeroporto de Figo maduro http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=573067. Também aqui, José Sócrates se revelou impotente para resolver o problema.

E porque faliu, afinal, a indústria dos provérbios? Uma das razões, foi o avanço da economia e a sofisticação da produção. No caso do provérbio que dá título a esta crónica, a abertura de boutiques do pão, com vários fabricos diários, permite que hoje só coma pão duro quem quer. A tentativa do governo de fazer subir o preço do pão acima dos limites do sustentável, pretendia, de algum modo, levar a que mais pessoas voltassem ao pão duro, assim se recuperando o significado do provérbio. Todos estaremos de acordo que o provérbio com «mais vale pão mole do que figo maduro», perde bastante. Outra das razões pelas quais esta indústria quase desapareceu prende-se com a evolução do futebol. Está já provado que um Figo maduro não é lá grande coisa pois aparecem, de imediato Nanis e Ronaldos prontos para o substituir. Mais uma vez, «mais vale pão duro do que Ronaldo maduro» não parece ser boa opção.

E se o envelhecimento da população deveria ter contribuído favorávelmente para a recuperação da indústria do provérbio, a verdade é que se verificou precisamente o contrário, continuando o dominó ou a bisca lambida a prevalecer sobre o provérbio. Continuamos a ter que nos governar com os provérbios dos nossos bisavós, vivendo uma espécie de greve da terceira idade que não garante sequer os serviços mínimos. Por isso ditados como «o robalo, quem o quiser há-de escamá-lo» ou «o rabo, sempre cheira ao que larga» se mantêm, sem qualquer actualização, quando toda a gente sabe que os robalos se vendem, hoje em dia, já preparadinhos para comer e que existem diversas marcas de toalhitas (até para bébé) capazes de provocar a extinção do segundo ditado e assim revolucionar esta indústria.

A segunda questão que deriva do tema acima, prende-se com a OTA e, mais uma vez, com o Governo. Alcochete acabou por ser a localização escolhida, tendo sido preteridos OTA e Lisboa + 1, onde Figo maduro entrava. Cacto fedorento sabe que foi precisamente pelo facto de poder ser posto em causa um ditado popular com tantas décadas, sem qualquer hipótese de revisão pelas razões apontadas atrás, que a escolha recaiu sobre Alcochete. Embora o estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil contemplasse a possibilidade de alterações para «mais vale pão duro do que OTA» ou «mais vale pão duro do que Alcochete», a inflexibilidade do GRAF (grupo de reflexão dos amigos do figo maduro), acabou por prevalecer, conseguindo impedir o provérbio de cair.

Este acabaria por ser identificado pelo estudo, como o único aspecto positivo para apontar Alcochete como escolha final para a localização do futuro Aeroporto de Lisboa que, já se sabe, se irá chamar «AAL, Aeroporto Amadurecido de Lisboa».

Como é sabido, não se pode querer «sol na eira e chuva no nabal»!

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